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CIDADES PARA UM PEQUENO PLANETA Parte 2

Síntese das reflexões de Richard Rogers, no livro "Cities for a Small Planet" com intuito de dar a conhecer e divulgar a mensagem de esperança, onde o autor defende e propõe um modelo de cidade equitativa e compacta, pluralista e integrada, diversificada e coesa, na qual a arte, a arquitetura e a paisagem possam emocionar e satisfazer o espírito humano.


"vista do espaço, evidência o impacto físico do homem na superfície do planeta."
Cidade de Tóquio, Science Foto Library



3. Ambiente, Cidadania e Tecnologia


Para responder às necessidades das cidades atuais, temos que desenvolver uma nova forma de cidadania e colocar a cultura urbana em primeiro plano na agenda política. É essencial que o ecologia e sustentabilidade ambiental se torne parte básica da formação e o âmago das disciplinas ensinadas.


A solução das cidades está na participação popular e efetivo compromisso dos cidadãos, e no desenvolvimento tecnológico que proteja a ecologia e humanize as cidades. O grande trunfo da humanidade tem sido a sua capacidade de transmitir os conhecimentos acumulados de geração em geração, de antecipar e resolver problemas. E, é aqui, que a tecnologia e a ecologia podem fazer a diferença no desenvolvimento da humanidade sobre o planeta.


A cidade é a corporificação da sociedade, como tal, deve ser vista em relação aos objetivos comuns. Os problemas das cidades não são o resultado de um desenvolvimento tecnológico excessivo, mas sim de uma excessiva aplicação equivocada.


Pela primeira vez desde a revolução industrial, o trabalho tira menos tempo das nossas vidas. A robótica, a educação, a medicina, comunicação global - todas as manifestações do nosso desenvolvimento tecnológico - proporcionam as condições para o desenvolvimento de uma nova forma de cidadania criativa, que gera riqueza para a sociedade, sem romper os limites de um ambiente sustentável.

"O desafio é mudarmos de um sistema que explora o desenvolvimento tecnológico por puro lucro, para um outro que tem objetivo de tornar as cidades sustentáveis."

Richard Rogers


E isso exige mudanças fundamentais no comportamento humano. O empresário que constrói apenas em busca de retorno financeiro, sem qualquer compromisso com o meio ambiente urbano, com questões ambientais ou sociais, está a fazer um mau uso da tecnologia.


A tecnologia é uma potencialidade mas o seu uso desvairado, não! A tecnologia deve ser utilizada para beneficiar o próprio cidadão, assegurar direitos humanos universais e garantir abrigo, água, comida, saúde, educação, esperança e liberdade para todos. Richards defendia e acreditava que uma cidade sustentável conseguiria proporcionar a estrutura para a realização desses direitos humanos básicos.


“É uma inovação que teria, na cidade do século XXI, um impacto tão radical quanto aquele da revolução industrial sobre a cidade do século XIX.”

Richard Rogers

Cidade do México. Stuart Franklin / Nacional Geographical Society Image Collection

4. Cidades Sustentáveis


As cidades nunca abrigaram tantas pessoas, nem tão grande proporção da raça humana. Hoje, elas consomem três quartos de toda a energia do mundo e causam pelo menos três quartos da poluição global.


Richard Rogers enfoca o seu estudo sobre as cidades e como elas poderiam ser pensadas para absorver o enorme aumento de crescimento urbano e ainda ser autossustentáveis:


“cidades que ofereçam oportunidades sem colocar em risco as futuras gerações”.

O economista Kenneth Boulding, já em 1966, argumentava que devíamos parar de nos comportar como se vivêssemos numa economia do “velho oeste”, sem qualquer limitação ao território a ser conquistado e aos recursos a ser consumidos. Em vez disso, devemos pensar no planeta como uma “nave espacial” - um sistema fechado com recursos finitos.


De acordo com Herbert Girardet, estudioso de ecologia, a solução está na procura de um metabolismo circular nas cidades, onde o consumo é reduzido pela implementação de eficiências e onde a reutilização de recursos é maximizada. Devemos reciclar materiais, reduzir o lixo, conservar recursos não-renováveis e incentivar o consumo de renováveis. Os atuais processos lineares de produção, causadores de poluição, devem ser substituídos por aqueles que objetivem um sistema circular de uso e reutilização, que aumentem a eficiência global do núcleo urbano e reduzam o impacto no meio ambiente. Para atingir este ponto, precisamos de desenvolver uma nova forma de planeamento urbano holístico e abrangente.



A cidade é uma matriz complexa e mutável de atividade humanas e efeitos ambientais. Planear cidades auto sustentáveis requer uma ampla compreensão das relações urbanas, entre cidadão, serviços, políticas de transporte e geração de energia, bem como do seu impacto total no meio ambiente local. Não haverá cidades sustentáveis, do ponto de vista ambiental, até que a ecologia urbana, economia e sociologia sejam fatores primordiais no planeamento urbano.


As questões ambientais estão intimamente ligadas às questões sociais. As políticas de meio ambiente melhoram diretamente a vida social dos cidadãos, reforçando-se mutuamente e garantindo cidades mais saudáveis e cheias de vida, ao mesmo tempo, que asseguram a qualidade para as próximas gerações.


Richard Rogers reinterpreta e reinventa, o modelo rejeitado no século XX, a “cidade densa”, proposta por pensadores, como Ebenezer Howard em 1898 e Patrick Abercrombie em 1944, que defenderam uma menor concentração de habitantes em ambientes menos densos e mais verdes: as Cidades-jardim e as New Towns.


Hoje, com toda evolução dos conhecimentos tecnológicos, a cidade densa já não precisa de ser vista como um risco à saúde, muito pelo contrário, podemos reconsiderar as vantagens sociais da proximidade e redescobrir as vantagens de morar na companhia do outro. Densas e multifuncionais mas controladas e autorreguladas.


Para além de se revelarem uma oportunidade social, podem também, através de um planeamento integrado, ser pensadas tendo em vista um aumento de eficiência energética, um menor consumo de recursos, um menor nível de poluição e de forma a evitar a sua expansão sobre a área rural.


Richard Rogers defende uma cidade densa e socialmente diversificada onde as atividades económicas e sociais se sobrepõem e onde as comunidades se concentram em torno de unidades de vizinhança de iguais acessos. Este conceito difere totalmente do atual modelo urbano dominante, uma cidade dividida por funções. Trajetória da evolução das cidades que fracassou nos países desenvolvidos e, que continua a ser usado, com base na conveniência económica.


Se o modelo de cidade compacta e sobreposta inclui a complexidade, o modelo de divisão por zonas rejeita-a, reduzindo a cidade a divisões simplicistas e pacotes económicos e administrativos facilmente administrados. Mesmo à escala dos edifícios, o conceito de uso misto tem sido ignorado. Os edifícios urbanos tradicionais, nos quais encontramos encontramos em simultâneo consultórios, residências, escritórios e lojas, dão vitalidade à rua e reduzem a necessidade do indivíduo sair de carro para satisfazer as suas necessidades quotidianas. Mas, tanto os investidores públicos ou privados preferem edifícios monofuncionais, porque facilita a padronização e favorece a relação custo-benefício, em desfavor do uso misto.


Cidade de Buenos Aires, Argentina. Morgan - Greenpeace
"Mas foi o automóvel o principal responsável pela deterioração da estrutura social das cidades. Ele viabilizou a compartimentação das atividades quotidianas, segregando escritórios, lojas e casas. As cidades foram transformadas para facilitar os carros, mesmo, sendo eles, e não as indústrias, os maiores responsáveis pela poluição do ar."

Richard Rogers


"Paradoxalmente, sob a perspetiva do indivíduo, o carro permanece como o produto tecnológico mais desejado e libertador do século." De baixo custo, subsidiado e produzido em massa. "Ele é prático porque as cidades não foram planeadas para funcionar a partir de um sistema de transporte público de massa."


A rua antes, um lugar de brincadeira e de encontros, é tomada pelos carros estacionados. Toda a cidade, desde a sua forma geral, do espaçamento de edifícios ao projetos de meio-fio, sarjetas e postes de iluminação, é projetada de acordo com um único critério - o carro. À medida que o transporte individual invadiu o espaço público, as cidades ficaram saturadas de poluição e congestionamentos, os quais afetaram e dividiram a sociedade.



O modelo de Cidade Compacta exige a rejeição do modelo de desenvolvimento monofuncional e a predominância do automóvel. A questão é: 1.Como pensar e planear as cidades, onde as comunidades prosperem e a mobilidade aumente; 2. Como buscar a mobilidade dos cidadãos sem permitir a destruição da vida comunitária pelo automóvel; 3. E, como intensificar o uso de sistemas eficientes de transporte público e reequilibrar o uso de nossas ruas em favor do pedestre e da comunidade.




A Cidade Compacta abrange todas essas questões. De padrão policêntrico, na zona central, apresenta as atividades sociais/económicas sobrepostas e associadas a pontos nodais de transporte público e, a partir do centro, desenvolvem-se as vizinhanças. Ligada, externamente, em rede a outros centros de vizinhança através de sistemas de conexão de alta velocidade.



Desta forma, com menos necessidades quotidianas de deslocação, o consumo de recursos energéticos e poluição gerada diminui, ao mesmo tempo, que igualdade de acessos, o sentido de segurança e o nível de convivência no espaço público aumenta.


Sem o carro, os sistemas leves de trilhos e autocarros elétricos apresentam-se mais eficientes e o caminhar e o andar de bicicleta tornam-se mais agradáveis.


Portanto, as cidades compactas sustentáveis recolocam a cidade como habitat ideal para uma sociedade baseada na comunidade. É um tipo de estrutura urbana estabelecida que pode ser interpretada de todas as maneiras em resposta a qualquer cultura. Independente do clima ou do estado de desenvolvimento de uma sociedade, o objetivo da busca a longo prazo de desenvolvimento sustentável é criar uma estrutura flexível para uma comunidade forte, dentro de um ambiente saudável e limpo, propiciando a expressão da cultura local.


Diagramas do Projeto Urbano Lu Zia Sui, Richard Rogers Partnership

Vários aspetos podem melhorar de forma radical a qualidade de ar e da vida urbana: a proximidade, os espaços públicos, a paisagem natural e a exploração de novas tecnologias em favor da ecologia. Ao mesmo tempo, que protege a área rural, do qual depende, contra a expansão desmedida do ambiente urbano.


Projeto Urbano Lu Zia Sui, Richard Rogers Partnership

Com menos vias de trânsito, dá lugar a mais espaços públicos de paisagem natural, como parques, jardins, árvores e outras vegetações importantes, como agentes bioclimáticos na cidade. No Verão, fornecem sombra e refrescam as ruas, quintais e edifícios e, no inverno, projetem dos ventos e filtram as águas das chuvas. Para além da paisagem natural minimizar os níveis de ruído, filtrar a poluição, absorver dióxido de carbono e produzir oxigénio, também, tem um importante papel psicológico na cidade e pode sustentar uma grande variedade de espécies promovendo a biodiversidade.


"O lixo produzido pelo homem, muito dele, rico em nutrientes, é atualmente desperdiçado em concentrações tão altas que envenena o meio ambiente. Em vez disso, ele poderia ser reciclado para produzir gás metano e fertilizantes. A água servida (proveniente de pias, lavagens de roupas, banhos, etc) pode ser filtrada através de sistemas naturais e reutilizadas para irrigação da paisagem urbana natural."

Richard Rogers


Sistemas experimentais de tratamento de esgotos, que descarregam os seus resíduos em áreas florestais, em vez de nos rios, apresentam benefício para o ambiente na capacidade de aumentar a taxa de crescimento florestal e reabastecer os aquíferos locais com água limpa. Como o principal e mais crítico recurso deste milénio, devemos desenvolver sistemas que maximizem a eficiência do seu uso.



Este conceito também se aplica a projetos de reabilitação urbana e recuperação de áreas degradadas. Como é exemplo, o impacto do carro nos centros históricos, resultando em zonas urbanas abandonadas ou envelhecidas.


"Não importa a causa que levou à sua decadência dessas áreas, o que interessa é que são áreas a serem recuperadas o que representa uma importante oportunidade para melhorar o grau de sustentabilidade das cidades."

Richard Rogers

Tecnópolis de Maiorca (Estudos preliminares) Richard Rogers Partnership

“O átomo é passado. O símbolo da ciência para o novo século é a rede dinâmica. A rede representa o arquétipo escolhido para representar todos os circuitos, toda a inteligência, toda a interdependência, todos os assuntos económicos, sociais, toda a democracia, todos os grupos, todos os grandes sistemas.”

Kevin Kelly, Out of Control






Já há um grande número de estratégias comprovadas para a criação de comunidades sustentáveis, que podem corrigir e ultrapassar a insensatez e ignorância da cidade atual.


As forças políticas e comerciais, que direcionam desnecessariamente o declínio ambiental e o desgaste da vida urbana, devem ser balizadas por objetivos de equidade social e sustentabilidade para as cidades. Portanto, a sociedade precisará explorar as modernas formas de comunicação e tecnologia, e incentivar os cidadãos a lidar com a complexidade dinâmica da cidade moderna. Também deve estar convencida do valor da beleza e do orgulho cívico. Em lugar de cidades que destruam o ambiente e alienem as comunidades, devemos construir cidades que fomentem e alimentem ambos.






Finalizando, deixo um exemplo de uma cidade atual pensada segundo um modelo de desenvolvimento policêntrico e multifuncional, que devolve o espaço público às pessoas limitando a presença do automóvel nos centros urbanos, e recuperando assim a sua qualidade ambiental - Cidade de Pontevedra, Galiza. Espanha.




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Referências bibliográficas e fonte das imagens:

- ROGERS, Richards, Cidades para um pequeno planeta (1ªEdição, 2013) Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SL

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