"Lazy Farming", "One Straw Revolution", "Natural Way of Farming", são algumas literaturas e conceitos de Masanobu Fukuoka que revolucionaram o mundo da agricultura, e também, da espiritualidade e da ecologia através de técnicas naturais.
1. Vida e o Caminho de Fukuoka
Masanobu Fukuoka (1913-2008), agricultor e filósofo, Japonês da ilha de Shikoku, cresceu nas encostas de Iyo onde seu Pai, cultivava tangerina e também arrozais, sendo um dos maiores proprietários da área. A família era budista, mas tolerante com o cristianismo, que havia penetrado na região de Iyo muito antes.
Como Fukuoka iria herdar as terras da família, seu pai colocou-o a estudar no Gifu Agricultural College, perto de Nagoya, na ilha principal de Honshu. Gifu era uma faculdade estadual de três anos onde os alunos aprendiam técnicas modernas para a agricultura em grande escala, e onde Fukuoka se especializou em Fitopatologia, sob a orientação do eminente professor Makoto Hiura.
Num certo dia, o sentimento de crise fez-se sentir na escola em 1932, quando o Japão anexou a Manchúria. Fukuoka e seus colegas estudantes detestavam o treinamento militar intensificado que agora eram obrigados a completar.
Os empregos eram escassos quando Fukuoka se formou em 1933, por essa razão o seu professore Hiura convenceu-o a continuar sua pesquisa na Estação Experimental Agrícola da Prefeitura de Okayama. No ano seguinte, Hiura conseguiu para ele ocupasse um cargo na Alfândega de Yokohama, onde foi designado para a Seção de Inspeção de Fábrica. Laboratório, situado no topo de uma colina com vista para o porto da cidade, onde Fukuoka estudou doenças, fungos e pragas encontrados em frutas e plantas importadas, sendo que, foi aí que passou o seu tempo “maravilhado com o mundo da natureza revelado pela ocular do microscópio.” Durante os seus tempos livres, ele foi-se “apaixonando” e aproveitando a vida da cidade. No terceiro ano em Yokohama, no entanto, ele foi hospitalizado por uma pneumonia aguda ou tuberculose incipiente, submetendo-se ao ar frio do inverno como parte do tratamento. Nesse contexto, Fukuoka ficou isolado pois seus amigos temiam o contágio. Doente e solitário, Fukuoka temeu por sua vida com apenas vinte e cinco anos.
Quando ele finalmente se recuperou e voltou ao trabalho, Fukuoka permaneceu distraído pelo terrível encontro com a morte e começou a meditar obsessivamente sobre a vida e o que ela deveria ser. Houve um momento, em que Fukuoka teve uma revelação:
“Neste mundo não há absolutamente nada. [...] todos os conceitos aos quais me apeguei eram invenções vazias. Todas as agonias desapareceram como sonhos e ilusões, algo que se poderia chamar de 'verdadeira natureza' foi revelado.”
Portanto, não haveria motivo para se preocupar com a vida. No dia seguinte, deixou o emprego e partiu alegremente em uma jornada sem destino. Por meses ele viveu com sua pensão de desemprego e a generosidade dos outros, alegre transmitiu sua crença recém-descoberta de que "tudo não tem sentido".
Convencido de que tudo deveria seguir seu curso natural, Fukuoka deixou a poda meticulosa das árvores frutíferas para a natureza. Com isso, ele observou que essas eram atacadas por insetos, os galhos entrelaçavam-se e, consequentemente, o pomar começava a murchar.
Com o pomar de seu pai dizimado, Fukuoka teve sua a primeira lição mais importante na agricultura natural: não se pode mudar as técnicas agrícolas abruptamente, ou seja, as árvores que foram cultivadas não podem ser negligenciadas pois são dependentes.
Em 1939, com envolvimento do Japão cada vez maior na expansão militar no exterior, Masanobu interrompeu as suas experiências e investigações na Montanha onde se refugiava. Pois, além da preocupação dos pais com seu comportamento estranho, a incompatibilidade com o estatuto da família. Por isso, na mesma época, foi-lhe oferecido o cargo de chefe da Secção de Controle de Doenças e Insetos da Estação Experimental Agrícola da Prefeitura de Kochi. Atendendo aos desejos de seu pai, ele aceitou, e permaneceu por cinco anos.
Enquanto se concentrava nesse trabalho e tentava aumentar a produção de alimentos para a guerra por meios científicos e modernos, ao mesmo tempo, Fukuoka estudava e aconselhava sobre os malefícios da agricultura química através de crónicas para um jornal local.
Então por conta própria, conduziu estudos comparativos. Ele comparou os rendimentos de safras cultivadas intensivamente e aprimoradas com pesticidas, composto e fertilizantes químicos, com os obtidos de safras cultivadas de forma natural e sem aditivos químicos. Sua conclusão foi que o uso de fertilizantes e pesticidas não era realmente necessário.
Fukuoka foi finalmente recrutado nos últimos meses desesperados da guerra. Seu dever, de Maio a Agosto de 1945, foi ajudar a construir redutos de montanha. Os primeiros meses foram traumáticos. Autoridades locais, como o pai de Fukuoka, foram expurgados de cargos públicos e, em Outubro do mesmo ano, o general Douglas MacArthur, chefe das forças de ocupação, proclamou a reforma agrária.
Fukuoka, mais uma vez, retomou sua busca por uma forma de agricultura totalmente integrada com a natureza. Nos anos seguintes, portanto, ele observou quais plantas e animais viviam naturalmente em seu pequeno pedaço de terra. Ele espalhou frutas, vegetais e sementes de árvores aleatoriamente e observou, enquanto alguns deles enraizavam e prosperavam, outros secavam e morriam.
Prosseguindo a sua investigação com base em tentativa e erro, ele cultivou a terra passivamente perguntando para si mesmo "que tal não fazer isso?", ao invés de perguntar, "que tal fazer isso?"
Ao longo dos anos, sua visão original sobre a agricultura natural foi confirmada. À medida que a ecologia natural foi restabelecida, ele percebeu que quanto menos ele fazia, melhor a terra respondia positivamente.
O mestre Fukuoka, pioneiro na filosofia de agricultura natural, dedicou partes da sua vida a ensinar e ajudar comunidades (na África, na India, na América, entre outros). Com este tipo de agricultura, deu ferramentas de modo a conseguir alimentar as populações desfavorecidas, aconselhando-os como travar a erosão dos solos e descontaminar as águas.
2. Agricultura Natural de Fukuoka
Naturalmente, Fukuoka observou bastante e percebeu muito bem os processos naturais da biologia e as sucessões ecológicas dos ecossistemas, os seus comportamentos, assim como, estes conseguem ter um equilíbrio perfeito entre todos os reinos e espécies das suas terras. Decidiu então ter uma filosofia de trabalhar com a natureza e não contra de modo a ter resultados eficazes e com muito pouco esforço.
Após muita reflexão e experimentos na integração de uma agricultura natural, percebe que muito do que se pratica na agricultura convencional é inútil e uma perda de tempo, esforço e rendimento sendo, por isso, que ele integra a agricultura na sucessão ecológica que acontece naturalmente, integrando estudo da biologia. Neste sentido, e ao contrário do convencional, ele não faz mobilizações de solo, não insere pesticidas nos ecossistemas e aposta nas plantas nativas adaptadas naturalmente por serem mais resistentes nessa região e, portanto, com mais sucesso no seu cultivo.
Ele insere as espécies no ecossistema de modo a integrarem essa sucessão ecológica com muito cuidado e seleção! Pois, dessa forma não perde a capacidade regeneradora do solo e os seus micro-organismos, ao mesmo tempo, que deixa as podas das árvores no solo promovendo a adubação natural.
Umas das mais conhecidas técnicas de Fukuoka são: 1. as bolas de sementes envolvidas com argila, terra fértil e areia, a que deu nome de "seed balls"; e 2. uso da palha como cobertura de solo, protegendo-o e fazendo com que não se esgotem, ao contrário do que acontece na agricultura convencional, levando á erosão, perda de nutrientes e desertificação dos solos. Estas fazem deste tipo de agricultura a chamada
'Agricultura Preguiçosa' (lazy farming) de
Fukuoka, em que se rege por quatro
princípios fundamentais.
3. Quatro Princípios da Agricultura Natural
Segundo o agricultor revolucionário japonês difusor da Agricultura Natural, um dos ramos da Agroecologia, a sua visão regia-se segundo 4 princípios:
1º «A terra auto cultiva-se, observou Fukuoka. Não há necessidade de o homem fazer o que as raízes, os vermes e os microrganismos fazem melhor. Além disso, arar o solo altera o ambiente natural e promove o crescimento de ervas daninhas.» Portanto, seu primeiro princípio é: Não arar ou revirar o solo.
2º «Em segundo lugar, num ambiente natural inalterado, o crescimento ordenado e a decomposição da vida vegetal e animal fertilizam o solo sem a ajuda do homem. O esgotamento da fertilidade ocorre apenas quando o crescimento original é eliminado em favor de plantações ou gramíneas que exaurem o solo para alimentar o gado. Adicionar fertilizantes químicos ajuda o cultivo, mas não ajuda o solo, que continua a deteriorar-se. Mesmo o composto e o esterco de galinha não podem melhorar a natureza, concluiu ele; além disso, o esterco de galinha pode causar a doença do arroz.» Portanto, o segundo princípio de Fukuoka é: Sem fertilizantes químicos ou composto preparado. Em vez disso, ele promove safras de cobertura como o trevo e a alfafa, que são fertilizantes naturais.
3º «A erva daninha é inimiga do agricultor em toda parte. Ainda assim, Fukuoka observou que, quando ele parou de arar, sua população de ervas daninhas diminuiu drasticamente. Isso ocorreu porque o arado realmente agita as sementes de ervas daninhas profundas e lhes dá a chance de germinar. A lavoura, portanto, não é a resposta para as ervas daninhas. Nem os herbicidas químicos são, pois perturbam o equilíbrio da natureza e deixam venenos na terra e na água. Existe uma maneira mais simples. Para começar, as ervas daninhas não precisam ser totalmente eliminadas; eles podem ser suprimidos com sucesso espalhando palha sobre o solo recém-semeado e plantando cobertura do solo. Eliminar os intervalos entre uma colheita e outra por meio de uma sementeira cuidadosamente cronometrada é essencial.» Não limpar com lavoura ou herbicidas é o terceiro princípio de Fukuoka.
Exemplo do Arrozal a ocupar o seu estrato e a cobrir o trevo tal como sucessão ecológica se tratasse de tão natural que esta agricultura procede com os ciclos biológicos
4º Finalmente, o que fazer com pragas e doenças? À medida que os campos de grãos e pomares de Fukuoka passaram a assemelhar-se cada vez a um ecossistema natural - com a proliferação de variedades de plantas a crescer desornadas - eles também criaram progressivamente um habitat natural para pequenos animais. Em tal habitat, Fukuoka observou que o próprio equilíbrio da natureza impedia que qualquer espécie ganhasse a vantagem: as cobras comem as rãs que comem os insetos, e assim por diante. Além disso, as infestações de insetos e doenças atacam as plantas mais fracas, deixando as mais fortes frutificarem com mais abundância. «Um campo de arroz com redução da ferrugem, pode realmente render maiores quantidades de grãos do que um deixado intocado. Embora as soluções químicas possam ser eficazes contra pragas e doenças de plantas no curto prazo, no longo prazo elas são perigosas. Além da poluição que eles deixam para trás, eles permitem que plantas fracas e dependentes de produtos químicos sobrevivam. Abandonada a si mesma, a natureza prefere ações mais resistentes.» O quarto princípio de Fukuoka é: Sem dependência de pesticidas químicos.
Fukuoka afirmava que quanto mais suas árvores são incentivadas de uma forma natural e proporcionadas com maior espaço de cultivo, menos poda elas exigem. Cada vez mais, ele dizia que podia “deixar o pomar crescer sozinho”.
A técnica de cultivo de Fukuoka consiste em espalhar as "seed balls" (armazenadas secas até chegar à altura de as atirar aos campos), uma espécie de incubadoras cujas sementes contidas só terão que receber humidade quando começarem a crescer, soltarem-se da bola, e as raízes conseguirem chegar ao solo, então assim, deixa as plantas crescerem aleatoriamente entre o trevo, ervas espontâneas e árvores.
Aqui também é necessária uma consciência íntima dos padrões naturais. Por tentativa, erro e observação atenta, Fukuoka aprendeu como introduzir vegetais no ecossistema na hora e da
maneira certa.
Para semear vegetais de inverno, por exemplo, ele espera até que as ervas selvagens do verão estejam secas. Assim os vegetais e sementes lançadas conseguem facilmente competir com outras ervas enfraquecidas e prosperar nos campos. Desta forma Fukuoka tira partido da sucessão natural e liberta-se do inútil e ineficaz trabalho do agricultor convencional, integrando os padrões da natureza e fazendo parte do grande sistema da vida.
"Seed Balls" - Realizada em Formação "Experiência em Permacultura" por Ser Recurso e formandos com base nas técnicas de Fukuoka.
4. Literatura e Cronologia
1913 Nasceu em Ohira, Cidade de Iyo, Prefeitura de Ehime
1933 Graduado no Departamento de Agricultura da Escola Superior de Agricultura da Prefeitura de Gifu (atual Universidade de Gifu)
1934 Começou a trabalhar na Divisão de Inspeção de Fábrica do Departamento de Alfândega de Yokohama
1937 Voltou para casa temporariamente e começou a agricultura natural
1939 Começou a trabalhar na Estação de Experimentação Agrícola da Prefeitura de Kochi
1947 Voltou para casa e dedicou sua vida à agricultura natural
1975 Publicado “Shizen Noho: Wara Ippon no Kakumei” (Shinjusha)
1978 Publicado “One Straw Revolution” (Rodale Press)
1979 Depois de visitar os EUA, começou a esverdear o deserto usando bolas de sementes em todo o mundo
1985 Publicado "The Natural Way of Farming: The Theory and Practice of Green Philosophy"
1986 Com marca registrada das variedades de arroz Fukuoka Mochi 3 Gou, Fukuoka 2 Gou e Fukuoka 1 Gou
1988 Recebeu o diploma das mais altas honras de Rajiv Gandhi, o reitor da Universidade Visva-Bharati na Índia e o ex-presidente. No mesmo ano, ele recebeu o Prêmio Ramon Magsaysay de Serviço Público nas Filipinas, que é frequentemente considerado o Nobel da Ásia Prêmio publicado “Hyakusho Yawa” (Auto-publicado)
1997 Tornou-se o primeiro destinatário do Prêmio Conselho da Terra, que é concedido a alguém que contribui para a conservação do meio ambiente global.
2005 Sua palestra final foi na Nature's Wisdom Expo (Prefeitura de Aichi)
2008 Faleceu na cidade de Iyo, província de Ehime
Livros:
- The One-Straw Revolution: An introduction to Natural Farming, 1978 ("A Revolução de uma Palha", 2001 - a única edição em Português).
Edições em Inglês:
- The Natural Way of Farming: The Theory and Practice of Green Philosophy
- The Road Back to Nature: Regaining the Paradise Lost
- Sowing Seeds in the Desert: Natural Farming, Global Restoration, and Ultimate
Food Security
6. Conclusão
De fato são notórios os ensinamentos que Fukuoka aplicou nas suas terras, e o que podemos afirmar é que está comprovado pelos 30 anos da sua prática em que não lavrava o solo, não usava químicos, nem sequer máquinas e equipamento. No entanto, tinha boas produções mesmo comparando com agricultores industriais, pois, obtinha igualmente boas colheitas de cereais, como são prova disso os seus campos de arrozais, que entre hortaliças e árvores de fruto e, inclusive, sem os alagar, produziam igualmente bem, em oposição ao que sempre se fez desde sempre.
Na década de 80, Masanobu conheceu Bill Mollison na Conferência de Permacultura em Olympia, no estado de Washington. Aí, havia quase mil pessoas, o que deslumbraram e entusiasmaram o agricultor com o número e a sinceridade das pessoas que encontrou e pensavam da mesma forma que ele.
É de assinalar a relação especial com a Permacultura, pois foi uma variante da agroecologia que teve influência direta com Masanobu Fukuoka, devido ao ter conhecido Bill Mollison graças a Larry Corn, que por sua vez, foi o tradutor de alguns livros do mesmo e, inclusive, aprendiz do curso de Permacultura dado por Bill Mollison.
Como resultado dessa relação, até o próprio Mollison escreveu o livro, "Permacultura Dois", no qual referenciava afincadamente as técnicas de Masanobu Fukuoka e ao trabalho pioneiro que ele fez com a agricultura natural de cultivo direto.
Fukuoka felicitou Mollison por "criar esta rede de pessoas brilhantes e enérgicas que trabalham para ajudar a salvar o planeta. [...] Agora, pela primeira vez na vida tenho esperança para o futuro".
Masanobu Fukuoka
Ele considera que a cura da terra e a purificação do espírito humano são o mesmo processo e estão diretamente ligadas. Ou seja, para se praticar a Agricultura Natural é necessário que o modo de vida e forma de cultivo estejam intimamente ligadas no mesmo processo natural.
"A finalidade da agricultura natural não é apenas a produção de alimentos, mas sim, o cultivo e o aperfeiçoamento dos seres humanos."
Masanobu Fukuoka
Ficaste com vontade de saber mais acerca do Senhor Masanobu Fukuoka?
Sugerimos os seguintes documentários:
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Fontes bibliográficas, digitais e gráficas:
- Livro "Revolução de uma palha", Masanobu Fukuoka 2005, Via Óptima
- Artigo "Masanobu Fukuoka's Natural Farming and Permaculture", 2003 Larry Korn
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