Síntese das reflexões de Richard Rogers, no livro "Cities for a Small Planet" com intuito de dar a conhecer e divulgar a mensagem de esperança, onde o autor defende e propõe um modelo de cidade equitativa e compacta, pluralista e integrada, diversificada e coesa, na qual a arte, a arquitetura e a paisagem possam emocionar e satisfazer o espírito humano.
"Ás vezes é preciso um solavanco, ou mesmo uma catástrofe para nos despertar e preparar para aceitar a mudança. A catástrofe não é a percursora ideal da implantação de uma política sensata. Mas sem ela, às vezes é difícil perceber se somos capazes de modificações indispensáveis nos nossos valores e afirmações."
Richard Rogers
1. Gaia como Organismo Vivo
Já em 1995, Richard Rogers alertava o mundo na “Reith Lectures” (série de palestras anuais por rádio da BBC), mostrando uma nova luz sobre as cidades, na ótica do passado, presente e futuro; numa perspetiva de escolher o amanhã, criando com isso um fantástico sentido de libertação.
Referenciando James Lovelock:
“O planeta que habitamos não é inanimado. É um organismo vivo. A terra, as rochas, os oceanos, a atmosfera e todos os seres vivos são um grande organismo. Um sistema de vida que regula e modifica a si mesmo”.
No sentido da Teoria de Gaia, e de acordo com Buckminster Fuller no Manual de Operações para o Planeta Terra: “para iniciar a correção da nossa posição a bordo da “grande nave”, o planeta Terra, devemos antes de mais, reconhecer que, até agora, a abundância dos recursos imediatamente consumíveis, inevitavelmente desejados ou absolutamente essenciais, foram suficientes para chegarmos até aqui, apesar da nossa ignorância. Estes recursos, em última instância esgotáveis, foram adequados até este momento crítico. Aparentemente essa espécie de amortecedor de erros de sobrevivência e crescimento da humanidade foi alimentado, até agora, da mesma forma que uma ave dentro de um ovo, que se alimenta do líquido envoltório, somente até uma certa etapa de desenvolvimento.”
Da mesma forma Richard alerta e encara as cidades, como organismos vivos que absorvem recursos e emitem resíduos. Quanto maiores e complexas são, maior é a sua dependência das áreas circundantes, assim como, maior será a sua vulnerabilidade em relação às mudanças do entorno.
“As cidades são, num só tempo, a nossa glória e a nossa perdição.”
Richard Rogers
2. História da Humanidade e a Pegada Ecológica
É inerente ao homem, acreditar que o progresso humano se dirige com alguns desvios, sempre para a frente e ilimitadamente. Mas o que nos diz a história, é que todas as sociedades urbanas anteriores se desintegraram. Sociedades, como as que se desenvolveram nos vales dos rios Tigre e Eufrates, no México pré-colombiano ou, como ainda hoje se observa, em partes da faixa do Sahel por toda a África. As razões para esses desaparecimentos são vários, porém todos estão sujeitos a três variáveis: população, ambiente e recursos naturais.
Antigas sociedades simplesmente desapareceram, por consequências visíveis da destruição da cobertura florestal e a remoção da camada superior do solo. Sem a base dos seus recursos naturais, impediram a formação de humidade e diminuíram as chuvas drasticamente, refletindo-se, consequentemente, na perda de fertilidade dos solos e no declínio do crescimento populacional. Como observamos, à escala do território português, a desertificação do interior em contradição com o passado.
Como outros animais, os seres humanos aprendem a adaptar-se a novos ambientes. Mas, diferente dos restantes seres, os humanos desenvolveram-se mais devido à sua habilidade de adaptar os ambientes às suas necessidades e utilizações. Exemplo disso, é a introdução da agricultura, que permitiu ao Homem fixar-se num lugar, criar povoados e assistir ao crescimento rápido das populações. No período nómada, do final da 2ª era glacial, existiam cerca de 10 milhões de humanos, com o passar do tempo e a especialização das atividades humanas, na revolução industrial, os números chegavam a 1 bilião.
Ironicamente, a evolução das cidades, o habitat da humanidade, caracteriza-se como o maior agente destruidor de ecossistemas e maior ameaça á sobrevivência da humanidade no planeta. Sendo que, o problema urbano não está no simples facto de viver numa cidade, mas sim, no facto das cidades crescerem indiscriminadamente.
Ricard Rogers apesar de alertar para estes problemas globais, ao mesmo tempo, acreditava na humanidade: “A causa do meu otimismo vem de três fatores: o aumento da consciencialização ecológica, da tecnologia das comunicações e da produção automatizada. Todas são condições que contribuem para o desenvolvimento de uma cultura urbana pós-industrial socialmente responsável e ambientalmente consciente”, referenciando o relatório da Nações Unidas, intitulado Our Common Future, onde propunham o conceito de desenvolvimento sustentável como espinha dorsal de uma política económica global.
“atender às nossas necessidades atuais sem comprometer as futuras gerações e dirigir ativamente nosso desenvolvimento em favor da maioria do mundo - os pobres.”
Nações Unidas, Our Common Future
Em nenhum lugar do mundo a implementação da “sustentabilidade” pode ser mais poderosa e benéfica do que na Cidade. Potencial tão grande que a sustentabilidade do meio ambiente deve transformar-se no princípio orientador do desenho urbano. O âmago desse conceito de desenvolvimento sustentável está na redefinição da riqueza para incluir o capital natural: o ar limpo, água potável, camada do ozono efetiva, mar sem poluição, terra fértil e abundante diversidade de espécies.
Se as cidades estão a destruir o equilíbrio ecológico do planeta, as causas principais do seu desenvolvimento são os nossos padrões de comportamento económico e social. Não pode existir harmonia urbana ou melhoria ambiental sem paz e garantia da aplicação dos direitos humanos básicos. Injustiças sociais em todas as formas minam a capacidade de uma cidade ser sustentável do ponto de vista ambiental. A falta de equidade básica incessante não permite a harmonização da sociedade e humanização das suas cidades. São necessários novos conceitos de planeamento urbano para integrar
as responsabilidades sociais.
Quando falamos de cidades, provavelmente, as pessoas falam de edifícios e carros, em vez de falar em ruas e praças. Se falarmos na vida urbana, falaremos mais de impessoalidade, distanciamento, medo de violência, congestionamento e poluição, do que de comunidade, participação, animação, beleza e prazer. Provavelmente dirão que os conceitos “Cidade” e “Qualidade de vida” são incompatíveis.
Quando a cidadania - noção de responsabilidade compartilhada por um ambiente - desaparece, a vida na cidade divide-se, ricos fechados em condomínios privados e pobres fechados em guetos/favelas. Paradoxalmente, as cidades foram criadas originalmente para celebrar o que temos em comum. Agora, são projetadas para nos manterem afastados uns dos outros.
"Uma cidadania ativa e uma vida urbana vibrante são componentes essenciais para uma cidade e uma boa identidade cívica. Para recuperar estes aspetos os cidadãos precisam estar envolvidos com o processo de evolução de suas cidades. Devem sentir que o espaço público é responsabilidade e propriedade da comunidade. Da ruela mais modesta até à grande praça cívica. [...] As cidades só podem refletir valores, compromissos e resoluções da sociedade que abrigam. "
Richard Rogers
Atualmente, a construção do nosso habitat é dominada pelas forças do mercado e imperativos financeiros de curto prazo, mas o que é facto, é que o sucesso das cidades depende da vontade de seus habitantes, do poder político, e da prioridade que ambos dão à criação e manutenção do ambiente humano. Tal como os atenienses da Grécia Antiga, temos de reconhecer a importância da cidade e o papel que ela desempenha no estímulo da moral e da democracia intelectual do seu tempo. Todos os novos cidadãos atenienses juravam o compromisso:
“Deixaremos esta cidade não menor, porém maior, melhor e mais bonita do que aquela que nos foi deixada”.
E, neste ponto terminamos: Como seria o mundo se tivéssemos o compromisso ateniense como principio e ética nas nossas próprias vidas? Como dizia Jean Vien Jean: "Se cada um varresse a calçada da sua casa, no fim do dia a rua toda estaria limpa!" E, a verdade, é que por mais complexa que seja a sociedade, como nos dizia Bill Mollison, a solução permanece embaraçosamente simples: a mudança em cada um de nós, nas nossas próprias vidas!
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Referências bibliográficas e fonte das imagens:
- ROGERS, Richards, Cidades para um pequeno planeta (1ªEdição, 2013) Barcelona: Editorial Gustavo Gili, SL
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